Definições de conhecimento, segundo Skinner e Guerin

Conhecer é ser capaz de se comportar apropriadamente, de forma verbal ou não verbal, em determinadas situações e sobre determinados aspectos do mundo

Baseando-se em Skinner (1957/1992, 1974), Guerin (1992) propõe que conhecimento é: (1) comportamento modelado pela relação direta de indivíduos com o mundo físico imediato; (2) comportamento modelado pela relação indireta do homem com o ambiente físico, construído por meio do comportamento verbal (ou do registro do comportamento) de outros indivíduos.

Guerin (1992), citando Ryle (1949), descreve comportamento produzido pela relação direta do homem com seu ambiente físico imediato como saber como (knowing how), ao passo que o comportamento modelado por um ambiente social, por meio de descrições de integrantes da comunidade verbal, é descrito como saber que (knowing that).  O último, saber que, caracteriza-se na análise do comportamento, como comportamento construído socialmente – porque se fundamenta na interação de indivíduos com outros indivíduos ou na interação de indivíduos com o produto do comportamento de outros indivíduos, e não na relação direta de indivíduos com seu ambiente físico imediato (Guerin, 1992). Em ambos os casos, (knowing how e knowing that), conhecer é ser capaz de se comportar apropriadamente, de forma verbal ou não verbal, em determinadas situações e sobre determinados aspectos do mundo (Skinner, 1957/1992, 1974; Guerin, 1992; Tourinho, 2003). Segundo Skinner (1974):

“Todas as formas de conhecer dependem de uma exposição prévia a contingências de reforço, mas afirma-se também que possuímos um tipo especial de conhecimento se pudermos simplesmente formular instruções, orientações, regras ou leis. Uma pessoa pode saber como fazer funcionar um dispositivo porque leu as instruções, ou como andar por uma cidade porque estudou o mapa, ou como agir legalmente porque conhece as leis, embora possa nunca ter manejado o dispositivo, visitado a cidade ou sentido o peso da lei. O conhecimento que permite a uma pessoa descrever contingências é muito diferente do conhecimento do comportamento modelado pelas contingências. Nenhuma das formas implica a outra.” (pp.138-139)

Para ampliar a discussão sobre as duas formas de conhecimentos referidas, Guerin (1992) retoma a definição de dois operantes verbais primários, descritos por Skinner (1957/1992): a) tato – “definido como operante verbal em que uma resposta de dada forma é evocada (ou pelo menos é fortalecida) por um objeto particular, um evento, a propriedade de um objeto ou de um evento” (Skinner, 1992, pp. 81-82); b) intraverbal – resposta verbal (vocal ou escrita) sob controle de estímulo verbal antecedente (vocal ou escrito) sem que haja correspondência formal entre estímulo antecedente e comportamento (Skinner, 1957/1992, p.72).

Guerin (1992) nota que embora tato seja descrito como operante verbal sob controle de estímulo antecedente usualmente não verbal, é instalado por meio de reforçadores generalizados – aqueles reforçadores que ao longo da história do indivíduo foram condição para a obtenção de outros (mais de um) reforçadores. Dessa forma, a emissão de tatos pode ficar sob controle de consequências sociais como aprovação, afeição, submissão do outro, e menos sob controle do ambiente físico imediato do falante. Não existem tatos “puros”. (Guerin, 1992; Skinner, 1957/1992)

Guerin (1992) descreve três maneiras pelas quais o comportamento verbal pode se manter sem qualquer relação com o mundo não verbal: (1) se a emissão de comportamentos semelhantes a tatos for controlada por subcomunidades que não reforcem descrições “precisas” do ambiente (considere-se que a noção de “descrição precisa” pode variar de comunidade para comunidade); (2) se intraverbais forem reforçados pelo grupo como se fossem lembranças de tatos prévios (o que é possível, já que, em muitos casos, torna-se difícil estabelecer a diferença entre lembrança de tato e comportamento intraverbal); (3) se consequências generalizadas se tornarem generalizadas demais e mantiverem a emissão de “tatos” de forma indiscriminada. (pp.1426-1427)

Em síntese, Guerin (1992) comenta que grande parte da vida moderna é dedicada a falar e a escrever sobre o mundo. Mas descrições sobre o mundo são mantidas por consequências liberadas por outras pessoas – e não, necessariamente, pelos estímulos ou eventos descritos ou pelo efeito de descrever adequadamente esses estímulos. Dessa forma, conjuntos de repertórios que são definidos como conhecimento são frequentemente construções verbais sobre construções verbais anteriores.

Referências:

Guerin, B. (1992).  Behavior Analysis and Social Construction of Knowledge. American Psychologist, 47, 11, 1423-1432.

Skinner, B. F. (1957/1992). Verbal behavior. Cambridge, MA: B. F. Skinner Foundation. (Obra publicada originalmente em 1957).

Skinner, B. F. (1974). About behaviorism.  New York: Alfred A. Knopf.